A VOZ DA JUSTIÇA
Têmis, deusa grega representante
da justiça, tem sido o símbolo que todos juristas costumam utilizar
de referência no momento de identificar sua profissão e em sentido geral sua
relevância. A balança, à esquerda, simboliza o equilíbrio
necessário ao raciocínio jurídico. A espada, à direita, é símbolo
de poder para que as leis e as decisões derivadas de sua aplicação sejam
executadas, enquanto a venda nos olhos representa a
imparcialidade e a equidade com que devem ser utilizadas e aplicadas as leis.
Observa-se nessas simbologias do Direito, seus mais apreciados valores: justiça como
objetivo a se alcançar, equilíbrio com que as disposições
legais devem ser aplicadas para resguardar a igualdade de todos em processos
legais e judiciais, e a força das autoridades
normativas e do próprio Estado para fazer cumprir as prescrições e as
determinações que derivam das leis. Sem a representação mitológica de Temis, o
Direito deixaria de ser a simbologia do justo e a aplicação de seus
dispositivos jamais evocaria a justiça. De igual maneira, com a ausência da
balança, da espada e da venda, não haveria justiça nos processos sociais de
normatização e resolução dos conflitos humanos.
Defender
o equilíbrio, o bom senso e a sapiência, representados pela balança,
na atividade decisória e na resolução de casos jurisdicionais é garantia de que
o Direito tornar-se-á efetivamente instrumento de paz e boa convivência entre
os seres humanos. Esse conjunto normativo tem se demostrado, entre os outros
que com ele coexistem socialmente, como a melhor fórmula normativa para
equilibrar as diferenças e preservá-las, em um contexto societário de respeito
ao outro e a todos em suas liberdades e direitos, claro, em contextos
democráticos e de direitos moralmente legais.
Reverenciar
a espada e toda sua simbologia de poder é reconhecer que os
dispositivos legais contam com a garantia da utilização da força legitimada
para conseguir a efetividade imprescindível para que os fins sociais que
justificam o Direito sejam alcançados.
A venda é
símbolo da aplicação igual e imparcial das normas de Direito. Tal orientação
nos remete a um dos pilares fundamentais do constitucionalismo, isto é, a
igualdade de todos perante a lei. A imparcialidade, bem desenhada com a venda,
gera confiança em que teremos ante a lei um julgamento igual e justo, pois a
justiça não deriva necessariamente de obter o resultado desejado, senão da
certeza que se respeitará o devido processo legal a todos em condições de
igualdade. Também da simbologia da
venda deriva-se a convicção que ela foi fechada por um laço de moralidade que
deixa as autoridades normativas que participam na aplicação das leis, bem
representadas na figura de Têmis, vinculadas às ideias fundacionais de justiça
pelas mãos da igualdade.
Entretanto,
algo chama a atenção na bela estátua de Têmis. Apesar de estar com a boca
fechada, não se visualiza mordaça alguma, ou seja, nada sugere simbolicamente
que a justiça deva estar calada ou mesmo que seja muda. Logo, a justiça pode
ter expressão verbal. Certamente tem. O Direito “fala” ao expressar o que
queremos ser e desejamos ter como comunidade política. Igualmente “falam” as
leis quando prescrevem o que podemos fazer e de quais condutas deveremos
abster-nos. Porém, o “falar” da justiça é diferente na sua linguagem e
conteúdo. Ela “fala” de princípios e pilares axiológicos que guiaram a
atividade histórica de fundação da nação, bem expressados no Preâmbulo da
Constituição Federal de 1988. Da mesma forma, “diz” como devemos ser tratados
sendo parte de processos jurisdicionais, administrativos e nas relações sociais
em geral. Ainda, especialmente, “fala” da honestidade e a ética com que aqueles
que são servidores do povo devem cumprir sua honrosa missão de nos fazer uma
comunidade humana paradigmática. Para tanto, usa-se de uma linguagem não
simbólica, pelo contrário, real, suficientemente social, que responde aos
anseios e sonhos populares daqueles dos que se sentem ignorados, subtraídos de
seus direitos e que somente têm como alternativa a realização das promessas de
bem-estar, liberdade e igualdade que os levam a acreditam no futuro do país.
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