A FORÇA DA VIRTUDE


Sêneca[1] minimizou a relevância do prazer e destacou a virtude como a condição para a felicidade, sendo essa o sentido do viver. Não um viver efêmero orientado ao simples prazer, senão um sublime, cujo maior destaque seria transcender por fazer o bem. Não se trata, pois, de uma virtude de natureza individual apenas, que ressaltaria um ego dissociado da responsabilidade cidadã de se impulsionar o bem comum, mas sim a honestidade coletiva, a virtude social com a mesma força com que se trabalha pela individual. Pode que, inclusive, isto resulte em algum tipo de restrição ao anseio pessoal da felicidade, mas a vida em sociedade civil obriga a equilibrar o individual com o social sob pena de isolamento ou enfrentamento à coletividade.
Sêneca alerta sobre ressaltar o prazer (o prazer individual), pois nada resultaria o prazer pelo prazer, que seria sempre temporário e egoísta, e que acabaria criando uma escravidão e dependência sensorial, uma maneira de afeição à racionalidade. A defesa seria, então, ao prazer visto como um resultado de levar uma vida virtuosa e de atingir a felicidade de cada um no contexto social. O anseio de felicidade precisa ser racional, sua procura (inclusive vista como um direito auto evidente e inato de cada ser humano) necessariamente deve acontecer nos parâmetros sociais e com os limites que o convívio social impõe.
Assim, tratar-se-ia da virtude e da felicidade social, aquelas que viabilizariam uma vida honrosa pautada pelos méritos e as obras que cada um realizaria em favor e benefício do bem coletivo e comum.
Parece que ao abandonar os ensinamentos de Sêneca, nesse sentido, afastamos o ego do álter, o que necessariamente vem fragilizando o nós e talvez, por isso, apenas se busque o prazer, mas o prazer na sua dimensão individual, egoísta, imediata e efêmera, esquecendo que com isso não obteremos nem a virtude nem mesmo a felicidade real e transcendente. 
A escassez de paradigmas virtuosos e a carência de grandes nomes morais entre nós, cuja simples aproximação pessoal produziria felicidade, tem influenciado negativamente na busca de um viver cotidiano orientado às virtudes. Para onde estaremos indo sem uma moral guia e orientadora?  Chegaremos a lugar nenhum, ou até mesmo a qualquer destino. De certo, nada encontraremos como tribo. Não estará ali, onde haveremos de chegar, o ethos da dignidade coletiva que como força além do real levantar-nos-á, de modo a cativar o melhor de nós e empreender o caminho à verdadeira grandeza tribal: o ambiente social, político, econômico e moral que nos fará uma nação forte, lendária e respeitável.
O que são povos sem virtude? Nada. Escravos. Dominados pelos outros e pelas próprias milhares e incontáveis motivações, todas espúrias, o mal em si mesmo, cujo conluio fará ressurgir nova Sodoma, talvez Gomorra, autodestrutivas pela perfídia dos seus habitantes. Triste final para quem tanto tem a construir e lutar. Somente de pensar no futuro das novas gerações e as futuras que ainda chegarão, bem vale a pena reformular tudo.
Quais as virtudes tão necessárias e pelas que dever-se-ia lutar? A honestidade seria a primeira e a principal. Tanto dos homens públicos que se tem disposto a servir a sua comunidade como de cada um. A honestidade é uma espécie de ar benéfico que ao inalar, por força da magia da moral que a estrutura elimina o tóxico e produz um ar puro e um viver regrado e limitado. A honestidade como virtude individual, atitude característica de pessoas do Bem deve ser a marca definitiva de cada um de nós.
A responsabilidade, a solidariedade e o respeito aos outros seriam virtudes de dimensões sociais que deveríamos compartilhar e abraçar, de maneira que coletivamente reine a convivência harmônica e pacifica.
Sem virtude ora individual ora coletiva estaremos distantes do povo que sonhamos ser.


[1] SÊNECA. A brevidade da Vida. Editora Escala, 2007.


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