ELEIÇÕES (PARTE 2)

As eleições e o tempo dela dedicado à propaganda eleitoral são, como enfatizado no ensaio anterior, o meio e o momento democrático de confronto entre ideologias, partidos políticos, programas políticos e propostas. Uma apresentação transparente dos pilares políticos, sociais e morais que fundamentam a pretensão de assumir o poder por candidatos e os grupos que eles representam. Também representa a comunicação de estratégias, ações e metodologias políticas, institucionais e sociais a serem executadas, se obtida a vitória. Por fim, o tempo juridicamente programado para declarar o compromisso com o paradigma político, ideológico e moral referendado na  Constituição e fundado na vontade de constituição.

Quem não exalta nem venera as eleições, dificilmente é um democrata, da mesma forma que será possivelmente um ser com baixos níveis evolutivos políticos e de civilidade diminuída. Querer as eleições e fazer ode a esses momentos é pretender ativar os mecanismos de correção, que somente a democracia possui, para melhorar e avançar. São contrários às eleições os que desmerecem a titularidade do povo sobre o poder. São os que continuam achando que o correto político está associado com exclusividade a um Messias secularizado, a um líder, partido ou casta de oligarcas, aristocratas, elites e militantes. Definitivamente, a história confirma que os que assim pensam sempre lutaram contra a democracia e conservação do poder nas mãos do povo.

O povo precisa e se utiliza de representantes[1] para governar e gerenciar os assuntos públicos, porém não demanda por milagreiros. Primeiro porque ele, o povo, é dono absoluto e insubstituível do poder e com ele da res publica, e segundo porque não são milagres que tornam estáveis e prósperas comunidades políticas, senão honestidade, trabalho, dedicação e entrega, que em definitivo é o que se espera dos servidores públicos, sejam eles políticos eleitos ou autoridades nomeadas.

As eleições são também disputas entre candidatos, em que diretamente participam personalidades, histórias de vida, posições ideológicas, politicas e morais pessoais e especialmente, caráteres individuais daqueles que representando certas posições declaradamente assumidas optam por representar bandeiras. Entretanto, como acontecem em contextos democráticos, tais disputas são reguladas, limitadas e devem ser civilizadas, e por essa razão ficam sob o controle das leis e das autoridades eleitorais instituídas e legitimadas. 

Os que se enfrentam em disputas eleitorais não são inimigos, nem podem ser considerados tais, porque tem algo sublime em comum, um objetivo que os une, mesmo que não o consigam reconhecer, isto é, a República, o Povo, a Pátria.
Talvez, por isso, disputas eleitorais não podem ser lutas, brigas, tumultos, muito menos ter natureza de guerras, pois isso iria contra a própria democracia e diminuiria o valor do que é sublime para a comunidade política, além de ser um mecanismo que visa a paz social e a boa e salutar convivência pacífica e harmônica entre concidadãos.  As eleições não podem converter um país em campos de batalhas entre o suposto bem e o imaginário mal por uma razão simples: seria ruim para a democracia e diminuiria em muito a legitimidade dos eleitos, tão necessária para ter a autoridade que lhe permitirá governar e guiar os destinos do país pelos próximos anos. 

Ainda, aqueles que consideram as eleições uma guerra entre os maus e os piores deveriam lembrar que alguém será declarado o vencedor, e que este terá a missão, função e responsabilidade de governar o país, zelar e propiciar a felicidade de todos, sem se importar em qual candidato particulares tiverem defendido. Quem chega ao poder por mecanismos democráticos, e as eleições são a única via, não pode se voltar contra os eleitores instaurando um governo sectário, segracionista e excludente, justamente porque a democracia representa respeito, união, inclusão e igualdade. Mesmo que as instituições existam para o impedir, espera-se que o eleito seja um democrata e o mais forte defensor da democracia. 


[1] Servidores da vontade popular. A ideia de que governantes são imunes às críticas, isto é, perfeitos, é a mais antidemocrática e atrasada de todas as que pudessem ser seguidas e defendidas no Século XXI.


Angel Rafael Mariño Castellanos 

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